O Espírito e a Palavra de Deus no tempo das
promessas
§702. Desde o começo até a
"plenitude do tempo", a missão conjunta do Verbo e do Espírito do Pai permanece escondida, mas está em ação. O Espírito de Deus prepara aí o tempo do
Messias, e os dois, sem serem ainda plenamente revelados, já são prometidos, a
fim de serem esperados e acolhidos quando se manifestarem.
É por isso
que, quando a Igreja lê o Antigo Testamento, procura nele o que o Espírito,
"que falou pelos profetas (Simbolo de Niceno-Constantinopolitano:DS 150),
quer falar-nos a respeito de Cristo.
·
Por "profetas", a fé da Igreja entende
aqui todos aqueles que o Espírito Santo inspirou para o anúncio de viva voz e
na redação dos livros sagrados, tanto do Antigo como do Novo Testamento. A
tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os
Profetas (nossos livros denominados históricos e proféticos) e os Escritos
(sobretudo sapienciais, em particular os Salmos).
Na Criação
§703. A Palavra de Deus e seu Sopro
estão na origem do ser e da vida de toda criatura:
·
Ao Espírito Santo cabe reinar, santificar e
animar a criação, pois é Deus consubstancial ao Pai e ao Filho... A ele cabe o
poder sobre a vida, pois, sendo Deus, ele conserva a criação no Pai pelo Filho.
§704. "Quanto ao homem, Deus o
modelou com as próprias mãos [isto é, o Filho e o Espírito Santo] (...) e
imprimiu na carne modelada sua própria forma, de modo que até o que fosse
visível tivesse a forma divina."
O Espírito da Promessa
§705. Desfigurado pelo pecado e pela
morte, o homem continua sendo "à imagem de Deus", à imagem do Filho,
mas é "privado da Glória de Deus", privado da "semelhança".
A promessa feita a Abraão inaugura a Economia da salvação, no fim da qual o
próprio Filho assumirá "a imagem" e a restaurará na
"semelhança" com o Pai, restituindo-lhe a Glória, o Espírito
"que dá a vida".
§706. Contra toda esperança humana,
Deus promete a Abraão uma descendência, como fruto da fé e do poder do Espírito
Santo Nela serão abençoadas todas as nações da terra. Esta descendência será
Cristo, no qual a efusão do Espírito Santo fará "a unidade dos filhos de
Deus dispersos".
Ao
comprometer-se por juramento, Deus já se compromete a dar seu Filho bem-amado e
"o Espírito da promessa... que prepara a redenção do Povo que Deus
adquiriu para si".
Nas Teofanias e na Lei
§707. As Teofanias (manifestações de
Deus) iluminam o caminho da promessa, desde os patriarcas até Moisés e de Josué
até as visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A tradição cristã
sempre reconheceu que, nessas Teofanias, o Verbo de Deus se fazia ver e ouvir,
revelado e ao mesmo tempo "oculto" na Nuvem do Espírito Santo.
§708. Esta pedagogia de Deus aparece
especialmente no dom da Lei, a qual foi dada como um "pedagogo" para
conduzir o Povo a Cristo.
Mas sua
impotência para salvar o homem privado da "semelhança" divina e do
conhecimento maior que ela dá do pecado suscitam o desejo do Espírito Santo Os
gemidos dos Salmos atestam isto.
No Reino e no Exilio
§709. A Lei, sinal da promessa e da
aliança, deveria ter regido o coração e as instituições do povo nascido da fé
de Abraão. "Se ouvirdes minha voz e guardardes minha aliança... sereis
para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Ex 19,5-6). Mas,
depois de Davi, Israel sucumbe à tentação de tornar-se um reino como as demais
nações.
Ora, o
Reino, objeto da promessa feita a Davi, será obra do Espírito Santo; ele
pertencerá aos pobres segundo o Espírito.
§710. O esquecimento da Lei e a
infidelidade à Aliança desembocam na morte: é o Exílio, aparentemente fracasso
das Promessas, mas, na realidade, fidelidade misteriosa do Deus salvador e
início de uma restauração prometida, mas segundo o Espírito.
Era preciso
que o Povo de Deus sofresse essa purificação; o Exílio já traz a sombra da Cruz
no Projeto de Deus, e o Resto dos pobres que volta de lá é uma das figuras mais
transparentes da Igreja.
A expectativa do Messias e de seu Espírito
§711. "Eis que vou fazer uma coisa
nova" (Is 43,19): duas linhas proféticas vão desenhar-se, uma levando para
a espera do Messias, a outra para o anúncio de um Espírito Novo, e ambas
convergindo no pequeno Resto, o povo dos Pobres, que aguarda na esperança a
"consolação de Israel" e "a libertação de Jerusalém" (Lc
2,25.38).
Vimos
anteriormente como Jesus realiza as profecias que lhe dizem respeito.
Limitamo-nos aqui àquelas em que aparece mais a relação entre o Messias e seu
Espírito.
§712. Os traços do rosto do Messias
esperado começam aparecer no Livro do Emanuel ("quando Isaias teve a visão
da Glória" de Cristo: Jo 12,41), em especial em Is 11,1-2:
Um ramo sairá do tronco de
Jessé,
um rebento brotará de suas
raízes:
sobre ele repousará o espírito
do Senhor,
espírito de sabedoria e de
inteligência,
espírito de conselho e de
fortaleza,
espírito de conhecimento e de
temor do Senhor.
§713. Os traços do Messias são
revelados sobretudo nos cantos do Servo. Esses cantos anunciam o sentido da
Paixão de Jesus e indicam, assim, a maneira como ele derramará o Espírito Santo
para vivificar a multidão: não partindo de fora, mas desposando nossa
"condição de escravo" (Fl 2,7). Tomando sobre si nossa morte, ele
pode comunicar-nos seu próprio Espírito de vida.
§714. É por isso que Cristo inaugura o
anúncio da Boa Nova, fazendo sua esta passagem de Isaias (Lc 4,18-19):
O Espírito do Senhor está
sobre mim,
porque ele me ungiu
para evangelizar os pobres;
curar aos de coração ferido;
enviou-me para proclamar a
remissão aos presos,
e aos cegos a recuperação da
vista,
para restituir a liberdade aos
oprimidos
e para proclamar um ano de
graça do Senhor.
§715. Os textos proféticos diretamente
referentes ao envio do Espírito Santo são oráculos em que Deus fala ao coração
de seu Povo na linguagem da promessa, com as tônicas do "amor e da
fidelidade"', cujo cumprimento São Pedro proclamará na manhã de
Pentecostes. Segundo essas promessas, nos "últimos tempos" o Espírito
do Senhor renovará o coração dos homens, gravando neles uma Lei Nova; reunirá e
reconciliará os povos dispersos e divididos; transformará a criação primeira; e
Deus habitará nela com os homens na paz.
§716. O Povo dos "pobres" os
humildes e os mansos, totalmente entregues aos desígnios misteriosos de seu
Deus, os que esperam a justiça não dos homens, mas do Messias - é finalmente a
grande obra da missão escondida do Espírito Santo durante o tempo das promessas
para preparar a vinda de Cristo. É a sua qualidade de coração, purificado e
iluminado pelo Espírito, que se exprime nos Salmos. Nesses pobres, o Espírito
prepara para o Senhor "um povo bem-disposto".
CIC-Catecismo da Igreja Católica
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