Alegria de ser discípulo missionário
§101. Neste momento, com incertezas no
coração, perguntamos com Tomé: “Como vamos saber o caminho?” (Jo 14,5).
- Jesus nos responde com uma
proposta provocadora: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele é o
verdadeiro caminho para o Pai, o qual tanto amou ao mundo que lhe deu o seu
Filho único, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna (cf. Jo
3,16). Esta é a vida eterna: “que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e
a Jesus Cristo teu enviado” (Jo 17,3). A fé em Jesus como o Filho do Pai é a
porta de entrada para a Vida.
- Como discípulos de Jesus,
confessamos nossa fé com as palavras de Pedro: “Tuas palavras dão Vida eterna”
(Jo 6,68). “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16).
§102. Jesus é o Filho de Deus, a
Palavra feita carne (cf. Jo 1,14), verdadeiro Deus e verdadeiro homem, prova do
amor de Deus aos homens. - Sua vida é uma entrega radical de si mesmo a favor
de todas as pessoas, consumada definitivamente em sua morte e ressurreição. Por
ser o Cordeiro de Deus, Ele é o Salvador.
- Sua paixão, morte e
ressurreição possibilita a superação do pecado e a vida nova para toda a
humanidade. NEle, o Pai se faz presente, porque quem conhece o Filho conhece o
Pai (cf. Jo 14,7).
§103. Como discípulos de Jesus
reconhecemos que Ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus (cf.
Lc 4,44) e ao mesmo tempo o Evangelho de Deus (cf. Rm 1,3). Cremos e anunciamos
“a boa nova de Jesus, Messias, Filho de Deus” (Mc 1,1). Como filhos obedientes
à voz do Pai, queremos escutar a Jesus (cf. Lc 9,35) porque Ele é o único
Mestre (cf. Mt 23,8).
- Como seus discípulos, sabemos
que suas palavras são Espírito e Vida (cf. Jo 6,63.68). Com a alegria da fé,
somos missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e, nEle, a boa
nova da dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da
solidariedade com a criação.
A boa nova da dignidade humana
§104. Bendizemos a Deus pela dignidade
da pessoa humana, criada à sua imagem e semelhança. Ele nos criou livres e nos
fez sujeitos de direitos e deveres em meio à criação. Agradecemos a Ele ter-nos
associado ao aperfeiçoamento do mundo, dando-nos inteligência e capacidade para
amar; e lhe agradecemos a dignidade, que recebemos também como tarefa que
devemos proteger, cultivar e promover.
- Bendizemos a Deus pelo dom da
fé que nos permite viver em aliança com Ele até o momento de compartilhar a
vida eterna.
- Bendizemos a Deus por nos fazer
suas filhas e filhos em Cristo, por nos haver redimido com o preço de seu
sangue e pelo relacionamento permanente que estabelece conosco, que é fonte de
nossa dignidade absoluta, inegociável e inviolável. Se o pecado deteriorou a
imagem de Deus no homem e feriu sua condição, a boa nova, que é Cristo, o
redimiu e o restabeleceu na graça (cf. Rm 5,12-21).
§105. Louvamos a Deus pelos homens e
mulheres da América Latina e do Caribe que, movidos por sua fé, têm trabalhado incansavelmente
na defesa da dignidade da pessoa humana, especialmente dos pobres e
marginalizados. Em seu testemunho, levado até à entrega total, resplandece a
dignidade do ser humano.
A boa nova da vida
§106. Louvamos a Deus pelo dom
maravilhoso da vida e por aqueles que a honram e a dignificam ao colocá-la a
serviço dos demais; pelo espírito alegre de nossos povos que amam a música, a
dança, a poesia, a arte, o esporte e cultivam uma firme esperança em meio a
problemas e lutas.
- Louvamos a Deus porque, sendo
nós pecadores, Ele nos mostrou seu amor reconciliando-nos consigo pela morte de
seu Filho na cruz.
- Louvamos a Deus porque Ele
continua derramando seu amor em nós pelo Espírito Santo e nos alimentando com a
Eucaristia, pão da vida (cf. Jo 6,35).
- A Encíclica “Evangelho da Vida”,
de João Paulo II, ilumina o grande valor da vida humana, da qual devemos cuidar
e pela qual continuamente devemos louvar a Deus.
§107. Bendizemos ao Pai pelo dom de seu
Filho Jesus Cristo, “rosto humano de Deus e rosto divino do homem”. “Na
realidade, tão só o mistério do Verbo encarnado explica verdadeiramente o
mistério do homem. Cristo, na própria revelação do mistério do Pai e de seu
amor, manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre sua
altíssima vocação”.
§108. Bendizemos ao Pai porque, mesmo
entre dificuldades e incertezas, todo homem aberto sinceramente à verdade e ao bem
comum pode chegar a descobrir, na lei natural escrita em seu coração (cf. Rm
2,14-15), o valor sagrado da vida humana desde seu início até seu fim natural,
e afirmar o direito de cada ser humano de ver respeitado totalmente este seu
bem primário. “A convivência humana e a própria comunidade política” se fundamenta
no reconhecimento desse direito.
§109. Diante de uma vida sem sentido,
Jesus nos revela a vida íntima de Deus em seu mistério mais elevado, a comunhão
trinitária. É tal o amor de Deus, que faz do homem, peregrino neste mundo, sua
morada: “Viremos a ele e viveremos nele” (Jo 14,23).
- Diante do desespero de um mundo
sem Deus, que só vê na morte o final definitivo da existência, Jesus nos
oferece a ressurreição e a vida eterna na qual Deus será tudo em todos (cf.
1Cor 15,28).
- Diante da idolatria dos bens
terrenos, Jesus apresenta a vida em Deus como valor supremo: “De que vale
alguém ganhar o mundo e perder a própria vida?” (Mc 8,36).
§110. Diante do subjetivismo hedonista,
Jesus propõe entregar a vida para ganhá-la, porque “quem aprecia sua vida terrena,
a perderá” (Jo 12,25). É próprio do discípulo de Jesus gastar a vida como sal
da terra e luz do mundo.
- Diante do individualismo, Jesus
convoca a viver e caminhar juntos. A vida cristã só se aprofunda e se
desenvolve na comunhão fraterna.
- Jesus nos diz: “Um é o seu
Mestre, e todos vocês são irmãos” (Mt 23,8). Diante da despersonalização, Jesus
ajuda a construir identidades integradas.
§111. A própria vocação, a própria
liberdade e a própria originalidade são dons de Deus para a plenitude e o
serviço ao mundo.
§112. Diante da exclusão, Jesus defende
os direitos dos fracos e a vida digna de todo ser humano. De seu Mestre, o
discípulo tem aprendido a lutar contra toda forma de desprezo da vida e de
exploração da pessoa humana. Só o Senhor é autor e dono da vida. O ser humano,
sua imagem vivente, é sempre sagrado, desde a sua concepção até a sua morte natural,
em todas as circunstâncias e condições de sua vida.
- Diante das estruturas de morte,
Jesus faz presente a vida plena. “Eu vim para dar vida aos homens e para que a
tenham em plenitude” (Jo 10,10). Por isso, cura os enfermos, expulsa os
demônios e compromete os discípulos na promoção da dignidade humana e de
relacionamentos sociais fundados na justiça.
§113. Diante da natureza ameaçada,
Jesus, que conhecia o cuidado do Pai pelas criaturas que Ele alimenta e
embeleza (cf Lc 12,28), convoca-nos a cuidar da terra para que ela ofereça
abrigo e sustento a todos os homens (cf. Gn 1,29; 2,15).
Documento de Aparecida-2007
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