"No princípio,
Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1).
- Com essas solenes palavras
inicia-se a Sagrada Escritura.
- O Símbolo da fé retoma estas
palavras confessando Deus Pai Todo-Poderoso como "O Criador do céu e da
terra", "de todas as coisas visíveis e invisíveis".
- A criação é o fundamento de
"todos os desígnios salvíficos de Deus", "o começo da história
da salvação", que culmina em Cristo.
- Inversamente, o mistério de
Cristo é a luz decisiva sobre o mistério da criação; ele revela o fim em vista
do qual, "no princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1):
- desde o
início, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo.
A catequese sobre a criação
- A catequese sobre a criação se
reveste de uma importância capital.
- Ela diz respeito aos próprios
fundamentos da vida humana e cristã, pois explicita a resposta da fé cristã a
pergunta elementar feita pelos homens de todas as épocas:
- "De
onde viemos?" "Para onde vamos?" "Qual é a nossa origem?"
"Qual é o nosso fim?" "De onde vem e para onde vai tudo o
que existe?" As duas questões, a da origem e a do fim, são
inseparáveis. São decisivas para o sentido e a orientação de nossa vida e
de nosso agir.
- A questão das origens do mundo
e do homem é objeto de numerosas pesquisas científicas que enriqueceram
magnificamente nossos conhecimentos sobre a idade e as dimensões do cosmo, o
devir das formas vivas, o aparecimento do homem. Essas descobertas nos convidam
a admirar tanto mais a grandeza do Criador, a render-lhe graças por todas as
suas obras, pela inteligência e pela sabedoria que dá aos estudiosos e aos
pesquisadores. Como Salomão, estes últimos podem dizer:
"Ele me deu um
conhecimento infalível dos seres para entender a estrutura do mundo, a atividade
dos elementos... pois a Sabedoria, artífice do mundo, mo ensinou" (Sb
7,17.22).
- E, se o mundo provém da
sabedoria e da bondade de Deus, por que existe o mal? De onde vem? Quem é o
responsável por ele? Haverá como libertar-se dele?
- Desde os inícios, a fé‚ cristã
tem-se confrontado com respostas diferentes da sua no que diz respeito a
questão das origens. Assim, encontram-se nas religiões e nas culturas antigas
numerosos mitos acerca das origens.
- Certos filósofos afirmaram que:
- tudo‚ é
Deus, que o mundo é Deus, ou que o devir do mundo é o devir de Deus
(panteísmo);
- outros
afirmaram que o mundo é uma emanação necessária de Deus, emanação esta que
deriva dessa fonte e volta a ela; outros ainda afirmaram a existência de
dois princípios eternos, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, em luta
permanente entre si (dualismo, maniqueísmo);
- segundo
algumas dessas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria
mau, produto de uma queda, e portanto deve ser rejeitado ou superado
(gnose);
- outros
admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira de um
relojoeiro que, uma vez terminado o serviço, o teria abandonado a si mesmo
(deísmo);
- outros,
finalmente, não aceitam nenhuma origem transcendente do mundo, vendo neste
o mero jogo de uma matéria que teria existido sempre (materialismo).
- Todas essas tentativas dão
prova da permanência e da universalidade da questão das origens. Esta busca é
própria do homem.
- Sem dúvida, a inteligência
humana já pode encontrar uma resposta para a questão das origens. Com efeito, a
existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza por meio de suas
obras, graças à luz da razão humana, ainda que este conhecimento seja muitas
vezes obscurecido e desfigurado pelo erro. É por isso que a fé vem confirmar e
iluminar a razão na compreensão correta desta verdade:
"Foi pela fé que
compreendemos que os mundos foram formados por uma palavra de Deus. Por isso é
que o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas" (Hb 11,3).
- A verdade da criação é tão importante
para toda a vida humana que Deus, em sua ternura, quis revelar a seu Povo tudo
o que é útil conhecer a este respeito. Para além do conhecimento natural que
todo homem pode ter do Criador, Deus revelou progressivamente a Israel o
mistério da criação.
- Ele, que escolheu os
patriarcas, que fez Israel sair do Egito e que, ao escolher Israel, o criou e o
formou, se revela como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra, e a
terra inteira, como o único que "fez o céu e a terra".
- Entre todas as palavras da
Sagrada Escritura sobre a criação, os três primeiros capítulos do Gênesis
ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, esses textos podem ter
diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no começo da Escritura, de
sorte que eles exprimem, em sua linguagem solene, as verdades da criação, da
origem e do fim desta em Deus, de sua ordem e de sua bondade, da vocação do
homem e finalmente do drama do pecado e da esperança da salvação.
- Lidas à luz de Cristo, na
unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, essas palavras são a
fonte principal para a catequese dos Mistérios "princípio":
- criação,
queda, promessa da salvação.
II. A criação - obra da Santíssima Trindade
- "No princípio, Deus criou
o céu e a terra" (Gn 1,1). Três coisas são afirmadas nestas primeiras
palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora
dele. Só ele é Criador (o verbo "criar" - em hebraico, ''bara''
sempre tem como sujeito Deus). Tudo o que existe (expresso pela fórmula "o
céu e a terra") depende daquele que lhe dá o ser.
- "No princípio era o
Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi
feito"(Jo 1,1-3).
- O Novo Testamento revela que
Deus criou tudo por meio do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Nele "foram
criadas todas coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele
é antes de tudo e tudo nele subsiste" (Cl 1,16-17).
- A fé da Igreja afirma outrossim
a ação criadora do Espírito Santo:
- Ele é o
"doador de vida" "o Espírito Criador" ("Veni,
Creator Spiritus"), a "Fonte de todo bem".
- Insinuada no Antigo Testamento,
revelada na Nova Aliança, a ação criadora do Filho e do Espírito,
inseparavelmente una com a do Pai, é claramente afirmada pela regra de fé da
Igreja:
- "Só
existe um Deus...: ele é o Pai, é Deus, é o Criador, é o Autor, é o
Ordenador. Ele fez todas as coisas por si mesmo, isto é, pelo seu Verbo e
Sabedoria", "pelo Filho e pelo Espírito", que são como
"suas mãos". A criação é a obra comum da Santíssima Trindade.
CIC-Catecismo da Igreja Católica
§279-292
Nenhum comentário:
Postar um comentário