§631. "Jesus desceu às profundezas
da terra. Aquele que desceu é também aquele que subiu" (Ef 4,9-10). O
Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de Cristo aos
Infernos e sua Ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque em sua Páscoa é do fundo
da morte que ele fez jorrar a vida:
·
Cristo, teu Filho, que, retornado dos Infernos, brilhou
sereno para o gênero humano, e vive e reina pelos séculos dos séculos. Amem.
Cristo
desceu aos infernos
§632. As frequentes afirmações do Novo
Testamento segundo as quais Jesus "ressuscitou dentre os mortos"
(1Cor 15,20) pressupõem, anteriormente à ressurreição, que este tenha ficado na
Morada dos Mortos.
- Este é o sentido primeiro
que a pregação apostólica deu à descida de Jesus aos Infernos: Jesus conheceu a
morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles na Morada dos
Mortos. Mas para lá foi como Salvador, proclamando a boa notícia aos espíritos
que ali estavam aprisionados.
§633. A Escritura denomina a Morada dos
Mortos, para a qual Cristo morto desceu, de os Infernos, o sheol ou o Hades,
Visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus. Este é, com
efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor que
não significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do
pobre Lázaro recebido no "seio de Abraão". "São precisamente
essas almas santas, que esperavam seu Libertador no seio de Abraão, que Jesus
libertou ao descer aos Infernos". Jesus não desceu aos Infernos para ali
libertar os condenados nem para destruir o Inferno da condenação, mas para
libertar os justos que o haviam precedido.
§634. "A Boa Nova foi igualmente
anunciada aos mortos..." (1Pd 4,6). A descida aos Infernos é o
cumprimento, até sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase
última da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente
vasta em sua significação real de extensão da obra redentora a todos os homens
de todos os tempos e de todos os lugares, pois todos os que são salvos se
tomaram participantes da Redenção.
§635. Cristo desceu, portanto, no seio
da terra, a fim de que "os mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a
ouvirem vivam" (Jo 5,25). Jesus, "o Príncipe da vida",
"destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, O Diabo, e libertou os
que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte" (Hb
2,5). A partir de agora, Cristo ressuscitado "detém a chave da morte e do
Hades" (Ap 1,18), e "ao nome de Jesus todo joelho se dobra no Céu, na
Terra e nos Infernos" (Fl 2,10).
·
Um grande silêncio reina hoje na terra, um
grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A
terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que
dormiam desde séculos... Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha
perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da
morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é
Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. "Eu sou teu Deus, e por causa
de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para
que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida
dos mortos."
No
terceiro dia ressuscitou dos mortos
§638. "Anunciamo-vos a Boa Nova: a
promessa, feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós, seus
filhos, ressuscitando Jesus" (At 13,32-33). A Ressurreição de Jesus é a
verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central
pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição,
estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a
Cruz, como parte essencial do Mistério Pascal.
Cristo ressuscitou dos mortos. Por sua morte
venceu a morte, aos mortos deu a vida.
O evento histórico e transcendente
§639. O mistério da Ressurreição de
Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente
constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo escrevia aos Coríntios
pelo ano de 56: "Eu vos transmiti... o que eu mesmo recebi: Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao
terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze"
(1Cor 15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou
conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.
§640. "Por que procurais entre os
mortos Aquele que vive? Ele não esta aqui; ressuscitou" (Lc 24,5-6). No
quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento com que se depara é o
sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo
de Cristo no túmulo poderia explicar-se de outra forma. Apesar disso, o
sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial. Sua descoberta pelos
discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do próprio fato da
Ressurreição. Este é o caso das santas mulheres, em primeiro 1ugar, em seguida
de Pedro. "O discípulo que Jesus amava" (Jo 20,2) afirma que, ao
entrar no túmulo vazio e ao descobrir "os panos de linho no chão" (Jo
20,6), "viu e creu". Isto supõe que ele tenha constatado, pelo estado
do sepulcro vazio, que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana
e que Jesus não havia simplesmente retomado a Vida terrestre, como tinha sido o
caso de Lázaro.
As aparições do Ressuscitado
§641. Maria de Mágdala e as santas
mulheres, que Vinham terminar de embalsamar o corpo de Jesus, sepultado às
pressas, devido à chegada do Sábado, na tarde da Sexta-feira Santa, foram as
primeiras a encontrar o Ressuscitado. Assim, as mulheres foram as primeiras
mensageiras da Ressurreição de Cristo para os próprios apóstolos. Foi a eles
que Jesus apareceu em seguida, primeiro a Pedro, depois aos Doze. Pedro,
chamado a confirmar a fé de seus irmãos, vê portanto, o Ressuscitado antes
deles, e é baseada no testemunho dele que a comunidade exclama: "E
verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão" (Lc 24,34).
§642. Tudo o que aconteceu nesses dias
pascais convoca todos os apóstolos, de modo particular Pedro, para a construção
da era nova que começou na manhã de Páscoa. Como testemunhas do Ressuscitado,
são eles as pedras de fundação de sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos
crentes tem por fundamento o testemunho de homens concretos, conhecidos dos
cristãos e, na maioria dos casos, vivendo ainda entre eles. Estas
"testemunhas da Ressurreição de Cristo" são, antes de tudo, Pedro e
os Doze, mas não somente eles: Paulo fala claramente de mais de quinhentas
pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez, além de Tiago e de todos os
apóstolos.
§643. Diante desses testemunhos é
impossível interpretar a Ressurreição de Cristo fora da ordem física e não
reconhecê-la como um fato histórico. Os fatos mostram que a fé dos discípulos
foi submetida à prova radical da paixão e morte na cruz de seu Mestre,
anunciada antecipadamente por Ele. O abalo provocado pela Paixão foi tão grande
que os discípulos (pelo menos alguns deles) não creram de imediato na notícia
da ressurreição. Longe de nos falar de uma comunidade tomada de exaltação
mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos abatidos, "com o rosto
sombrio" (Lc 24,17) e assustados. Por isso não acreditaram nas santas
mulheres que voltavam do sepulcro, e "as palavras delas pareceram-lhes
desvario" (Lc 24,11). Quando Jesus se manifesta aos onze na tarde da
Páscoa, "censura-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não
haviam dado crédito aos que tinham visto o Ressuscitado" (Mc 16,14).
§644. Mesmo confrontados com a
realidade de Jesus ressuscitado, os discípulos ainda duvidam, a tal ponto que o
fato lhes parece impossível: pensam estar vendo um espírito. "Por causa da
alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam perplexos" (Lc 24,41).
Tomé conhecerá a mesma provação da dúvida e quando da última aparição na
Galiléia, contada por Mateus, "alguns, porém, duvidaram" (Mt 28,17).
Por isso, a hipótese segundo a qual a ressurreição teria sido um
"produto" da fé (ou da credulidade) dos apóstolos carece de consistência.
Muito pelo contrário, a fé que tinham na Ressurreição nasceu - sob a ação da
graça divina - da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado.
CIC-Catecismo da Igreja Católica
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