Os Mistérios da Vida Pública de Jesus
A Tentação de Jesus
§538 Os Evangelhos falam de um tempo de
solidão de Jesus no deserto, imediatamente após seu Batismo por João:
"Levado pelo Espírito" ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem
comer, vive com os animais selvagens e os anjos o servem. No final dessa
permanência, Satanás o tenta por três vezes procurando questionar sua atitude
filial para com Deus. Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as tentações
de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo afasta-se dele "até o
tempo oportuno" (Lc 4,13).
§539 Os evangelistas assinalam o
sentido salvífico desse acontecimento misterioso.
- Jesus é o novo Adão, que ficou
fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação.
- Jesus cumpre à perfeição a
vocação de Israel: contrariamente aos que provocaram outrora a Deus durante
quarenta anos no deserto, Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente
obediente à vontade divina.
- Nisso Jesus é vencedor do Diabo:
ele "amarrou o homem forte" para retomar-lhe a presa. A vitória de
Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da Paixão, obediência
suprema de seu amor filial ao Pai.
§540 A tentação de Jesus manifesta a
maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias o oposto da que lhe propõe
Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe. E por isso que Cristão venceu o
Tentador por nós: "Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de
compadecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós,
com exceção do pecado" (Hb 4,15).
- A Igreja se une a cada ano,
mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto.
“O Reino de Deus está bem próximo”
§541 "Depois que João foi preso,
Jesus veio para a Galiléia proclamando, nestes termos, o Evangelho de Deus:
"Cumpriu-se O tempo e o Reino de Deus está
próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho"' (Mc 1,14-15).
"Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos céus na
terra." Ora, a vontade do Pai é "elevar os homens à participação da
Vida Divina". Realiza tal intento reunindo os homens em torno de seu
Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é na terra "O germe e o
começo do Reino de Deus"
§542 Cristo está no centro do
congraçamento dos homens na "família de Deus". Convoca-os junto a si
por sua palavra, por seus sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de
seus discípulos. Realizar a vinda de seu Reino sobretudo pelo grande mistério
de sua Páscoa: sua morte na Cruz e sua Ressurreição. "E eu, quando for
elevado da terra, atrairei todos a mim" (Jo 12,32). A esta união com
Cristo são chamados todos os homens.
O Anuncio do Reino de Deus
§543 Todos os homens são chamados a
entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel, este Reino
messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter
acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus:
- Pois a
palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem
com fé e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o
próprio Reino; depois, por sua própria força, a semente germina e cresce
até o tempo da messe.
§544 O Reino pertence aos pobres e
aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é
enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os
bem-aventurados, pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos
"pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos
sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura
até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se
com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição
para se entrar em seu Reino.
§545 Jesus convida os pecadores à
mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas pecadores" (Mc 2,17).
Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas
mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles
e a imensa "alegria no céu por um único pecador que se arrepende" (Lc
15,7). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida
"em remissão dos pecados" (Mt 26.28).
§546 Jesus convida a entrar no Reino
por meio das parábolas, traço típico de seu ensinamento. Por elas, convida
ao festim do Reino, mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é
preciso dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos
- As parábolas
são como espelhos para o homem: este acolhe a palavra como um solo duro ou como
uma terra boa?
- Que faz ele
dos talentos recebidos? Jesus e a presença do Reino neste mundo estão
secretamente no coração das parábolas. E preciso entrar no Reino, isto é,
tomar-se discípulos de Cristo para "conhecer os mistérios do Reino dos
Céus" (Mt 13,11).
- Para os que
ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático.
Os Sinais do Reino de Deus
§547 Jesus acompanha suas palavras com
numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22) que manifestam que
o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado.
§548 Os sinais operados por Jesus
testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele. Aos que a Ele se dirigem
com fé, concede o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé naquele que
realiza as obras de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Eles podem
também ser "ocasião de escândalo". Não se destinam a satisfazer a
curiosidade e os desejos mágicos. Apesar de seus milagres tão evidentes, Jesus
é rejeitado por alguns; acusam-no até de agir por intermédio dos demônios.
§549 Ao libertar certas pessoas dos
males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da morte, Jesus operou
sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra,
mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os
entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões
humanas.
§550 O advento do Reino de Deus é a
derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os
demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28). Os exorcismos
de Jesus libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de
Jesus sobre "o príncipe deste mundo". E pela Cruz de Cristo que o
Reino de Deus será definitivamente estabelecido: “Deus reinou do alto do
madeiro".
CIC-Catecismo da Igreja Católica
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