A Queda
- Deus é infinitamente bom e
todas as suas obras são boas.
- Todavia, ninguém escapa à
experiência do sofrimento, dos males existentes na natureza que aparecem
ligados às limitações próprias das criaturas e, sobretudo, à questão do mal
moral.
- De onde vem o mal?
"Eu perguntava de onde vem o
mal e não encontrava saída", diz Santo Agostinho, e sua própria busca
sofrida não encontrará saída, a não ser
em sua conversão ao Deus vivo.
Pois "o mistério da iniquidade" (2 Ts 2,7)
só se explica
à luz do "mistério da piedade".
- A revelação do amor divino em
Cristo manifestou ao mesmo tempo a extensão do mal e a superabundância da
graça. Precisamos, pois, abordar a questão da origem do mal fixando o olhar de
nossa fé naquele que, e só Ele, é o Vencedor do mal.
Onde o pecado abundou, a graça superabundou
A realidade do pecado
- O pecado está presente na história do homem: seria inútil
tentar ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes.
- Para tentarmos compreender o
que é o pecado, é preciso antes de tudo reconhecer a ligação profunda do homem com Deus, pois fora desta relação o mal
do pecado não é desmascarado em sua verdadeira identidade de recusa e de
oposição a Deus, embora continue a pesar sobre a vida do homem e sobre a
história.
- A realidade do pecado, e mais
particularmente a do pecado das origens, só se entende à luz da Revelação
divina. Sem o conhecimento de Deus que ela nos dá não se pode reconhecer com
clareza o pecado, e somos tentados a explicá-lo unicamente como uma falta de
crescimento, como uma fraqueza psicológica, um erro a consequência necessária
de uma estrutura social inadequada etc.
- Somente à luz do desígnio de
Deus sobre o homem compreende-se que o pecado é um abuso da liberdade que Deus
dá às pessoas criadas para que possam amá-lo e amar-se mutuamente.
O pecado original – Uma verdade essencial da fé
- Com o progresso da Revelação, é
esclarecida também a realidade do pecado. Embora o Povo de Deus do Antigo
Testamento tenha conhecido a dor da condição humana à luz da história da queda
narrada no Gênesis, não era capaz de entender o significado último desta
história, que só se manifesta plenamente à luz da Morte e Ressurreição de Jesus
Cristo.
- É
preciso conhecer a Cristo como fonte da graça para conhecer Adão como
fonte do pecado. E ó Espírito-Paráclito, enviado por Cristo ressuscitado
que veio estabelecer "a culpabilidade do mundo a respeito do
pecado" (Jo 16,8), ao revelar Aquele que é o Redentor do mundo.
- A doutrina do pecado original
é, por assim dizer, "o reverso" da Boa Notícia de que Jesus é o
Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que
a salvação é oferecida a todos graças a Cristo. A Igreja, que tem o senso de
Cristo, sabe perfeitamente que não se pode atentar contra a revelação do pecado
original sem atentar contra o mistério de Cristo.
Para ler o relato da queda
- O relato da queda (Gn 3)
utiliza uma linguagem feita de imagens, mas afirma um acontecimento primordial,
um fato que ocorreu no início da história
do homem. - A Revelação dá-nos a certeza de fé de que toda a história
humana está marcada pelo pecado original cometido livremente por nossos
primeiros pais.
A queda dos anjos
- Por trás da opção de
desobediência de nossos primeiros pais há
uma voz sedutora que se opõe a Deus e que, por inveja, os faz cair na
morte.
- A Escritura e a Tradição da
Igreja vêem neste ser um anjo destronado, chamado Satanás ou Diabo.
- A Igreja ensina que ele tinha
sido anteriormente um anjo bom, criado por Deus. Com efeito, “o Diabo e outros
demônios foram por Deus criados bons em (sua) natureza, mas se tornaram maus
por sua própria iniciativa."
- A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta
"queda" consiste na opção livre desses espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente a
Deus e seu Reino. Temos um reflexo desta rebelião nas palavras do Tentador
ditas a nossos primeiros pais:
"E vós sereis
como deuses" (Gn 3,5). O Diabo é "pecador desde o princípio"
(1Jo 3,8), "pai da mentira" (Jo 8,44).
- É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da infinita
misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado.
"Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não existe para
os homens após a morte."
- A Escritura atesta a influência
nefasta daquele que Jesus chama de "o homicida desde o princípio" (Jo
8,44) e que até chegou a tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai.
"Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do
Diabo" (1Jo 3,9).
- A mais grave dessas obras,
devido às suas consequências, foi a sedução mentirosa que induziu o homem a
desobedecer a Deus.
- Contudo, o poder de Satanás não
é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro
espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do Reino de
Deus.
- Embora Satanás atue no mundo
por ódio contra Deus e seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause
graves danos – de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física
- para cada homem e para a sociedade, esta ação é permitida pela Divina
Providência, que com vigor e doçura dirige a história do homem e do mundo.
- A permissão divina da atividade
diabólica é um grande mistério, mas "nós sabemos que Deus coopera em tudo
para o bem daqueles que o amam".
CIC-Catecismo da Igreja Católica
§385-395
Nenhum comentário:
Postar um comentário