Sequência da
postagem “Jesus desceu ao inferno”
O estado da humanidade Ressuscitada de Cristo
§645. Jesus ressuscitado estabelece com
seus discípulos relações diretas, em que estes o apalpam e com Ele comem.
Convida-os, com isso, a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a
constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo
que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de sua Paixão.
- Contudo, este corpo
autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo
glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se
presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais
ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai.
Por esta razão também Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como
quiser: sob a aparência de um jardineiro ou "de outra forma" (Mc
16,12), diferente das que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente
para suscitar-lhes a fé.
§646. A Ressurreição de Cristo não
constituiu uma volta à vida terrestre, como foi o caso das ressurreições que
Ele havia realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e
Lázaro. Tais fatos eram acontecimentos miraculosos, mas as pessoas contempladas
pelos milagres voltavam simplesmente à vida terrestre "ordinária"
pelo poder de Jesus. Em determinado momento, voltariam a morrer.
- A Ressurreição de Cristo é
essencialmente diferente. Em seu corpo ressuscitado, Ele passa de um estado de
morte para outra vida, para além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo
de Jesus é repleto do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no
estado de sua glória, de modo que Paulo pode chamar a Cristo de "o homem
celeste".
A Ressurreição como acontecimento transcendente
§647. "Só tu, noite feliz
"canta o Exsultet da Páscoa – "soubeste a hora em que Cristo da morte
ressurgia." Com efeito ninguém foi testemunha ocular do próprio
acontecimento da Ressurreição, e nenhum Evangelista o descreve. Ninguém foi
capaz de dizer como ela se produziu fisicamente. Muito menos sua essência mais
íntima, sua passagem a outra vida, foi perceptível aos sentidos. Como evento
histórico constatável pelo sinal do sepulcro vazio e pela realidade dos
encontros dos apóstolos com Cristo ressuscitado, a Ressurreição nem por isso
deixa de estar no cerne do mistério da fé, no que ela transcende e supera a
história. E por isso que Cristo ressuscitado não se manifesta ao mundo mas a
seus discípulos, "aos que haviam subido com ele da Galiléia para
Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo" (At 13,31).
A Ressurreição - obra da Santíssima Trindade
§648. A Ressurreição de Cristo é objeto
de fé enquanto intervenção transcendente do próprio Deus na criação e na
história. Nela, as três Pessoas Divinas agem ao mesmo tempo, juntas, e
manifestam sua originalidade própria.
Ela
aconteceu pelo poder do Pai que "ressuscitou" (At 2,24) Cristo, seu
Filho, e desta forma introduziu de modo perfeito sua humanidade - com seu corpo
- na Trindade.
Jesus é
definitivamente revelado "Filho de Deus com poder por sua Ressurreição dos
mortos segundo o Espírito de santidade" (Rm 1,4). São Paulo insiste na
manifestação do poder de Deus pela obra do Espírito que vivificou a humanidade
morta de Jesus e a chamou ao estado glorioso de Senhor.
§649. O Filho opera, por sua vez, a
própria Ressurreição em virtude de seu poder divino. Jesus anuncia que o Filho
do homem deveria sofrer muito, morrer e, em seguida, ressuscitar (sentido ativo
da palavra). Alhures, afirma explicitamente: "Eu dou a minha vida para
retomá-la... Tenho poder de dá-la e poder para retomá-la" (Jo 10,17-18
"Nós cremos... que Jesus morreu, em seguida ressuscitou" (1Ts 4,14).
§650. Os Padres da Igreja contemplam a
Ressurreição a partir da Pessoa Divina de Cristo que ficou unida à sua alma e a
seu corpo separados entre si pela morte: "Pela unidade da natureza divina,
que permanece presente em cada uma das duas partes do homem, estas se unem
novamente. Assim, a Morte se produz pela separação do composto humano, e a
Ressurreição, pela união das duas partes separadas"
Sentido e alcance salvífico da Ressurreição
§651. "Se Cristo não ressuscitou,
vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé" (1Cor 15,14). A
Ressurreição constitui antes de mais nada a confirmação de tudo o que o próprio
Cristo fez e ensinou. Todas as Verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito
humano, encontram sua justificação se, ao ressuscitar, Cristo deu a prova
definitiva, que havia prometido, de sua autoridade divina.
§652. A Ressurreição de Cristo é
cumprimento das promessas do Antigo Testamento" e do próprio Jesus durante
sua vida terrestre. A expressão "segundo as Escrituras" indica que a
Ressurreição de Cristo realiza essas predições.
§653. A verdade da divindade de Jesus é
confirmada por sua Ressurreição. Dissera Ele: "Quando tiverdes elevado o
Filho do Homem, então sabereis que EU SOU, (Jo 8,28). A Ressurreição do
Crucificado demonstrou que ele era verdadeiramente "EU SOU", o
Filho de Deus e Deus mesmo. São Paulo pôde declarar aos judeus: "A
promessa feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós...;
ressuscitou Jesus, como está escrito no Salmo segundo: 'Tu és o meu filho, eu
hoje te gerei" (At 13,32-33). A Ressurreição de Cristo está estreitamente
ligada ao mistério da Encarnação do Filho de Deus. E o cumprimento segundo o
desígnio eterno de Deus.
§654. Há um duplo aspecto no Mistério
Pascal: por sua morte Jesus nos liberta do pecado, por sua Ressurreição Ele nos
abre as portas de uma nova vida. Esta é primeiramente a justificação que nos
restitui a graça de Deus, "a fim de que, como Cristo foi ressuscitado
dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova"
(Rm 6,4). Esta consiste na vitória sobre a morte do pecado e na nova
participação na graça". Ela realiza a adoção filial, pois os homens se
tornam irmãos de Cristo, como o próprio Jesus chama seus discípulos após a
Ressurreição: "Ide anunciar a meus irmãos" (Mt 28,10). Irmãos não por
natureza mas por dom da graça, visto que esta filiação adotiva proporciona uma
participação real na vida do Filho Único, que se revelou plenamente em sua Ressurreição.
§655. Finalmente, a Ressurreição de
Cristo - e o próprio Cristo ressuscitado - é princípio e fonte de nossa
ressurreição futura: "Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que
adormeceram... assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a
vida" (1Cor 15,20-22). Na expectativa desta realização, Cristo
ressuscitado vive no coração de seus fiéis. Nele, os cristãos
"experimentaram... as forças do mundo que há de vir" (Hb 6,5) e sua
vida é atraída por Cristo ao seio da vida divina" "a fim de que não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por
eles" (2Cor 5,15).
CIC-Catecismo da Igreja Católica
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