Resposta do homem a Deus
- Por sua Revelação, "o Deus
invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos, e com
eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber".
A resposta adequada a
este convite é a fé.
- Pela fé, o homem submete
completamente sua inteligência e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o
homem dá seu assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura denomina
"obediência da fé" esta resposta do homem ao Deus que revela.
Obediência da fé
- Obedecer na fé significa
submeter-se livremente a palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por
Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abraão é o modelo que a Sagrada
Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização.
Abraão: o Pai de todos os crentes
- Em Hebreus cap 11, no grande
elogio à fé dos antepassados, insiste particularmente na fé de Abraão:
"Foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para
uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para onde ia".
Pela fé, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida. Pela fé,
Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, finalmente,
Abraão ofereceu seu filho único em sacrifício.
- O Antigo Testamento é rico em
testemunhos desta fé. A Epístola aos Hebreus proclama o elogio da fé exemplar
dos antigos, "que deram o seu testemunho". No entanto, "Deus
previa para nós algo melhor": a graça de crer em seu Filho Jesus, "o
autor e realizador da fé, que a leva à perfeição".
Maria: Bem aventurada que acreditou
- A Virgem Maria realiza da
maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a
promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada é impossível a
Deus" e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em
mim segundo a tua palavra". Isabel a saudou: "Bem-aventurada a que
acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido". É em
virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada (Lc 1,37-38;45).
- Maria não deixou de crer
"no cumprimento" da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em
Maria a realização mais pura da fé.
"Sei em quem pus minha fé" (2Tm 1,12)
- A fé é diferente da fé em uma
pessoa humana; ela é:
- uma adesão
pessoal do homem a Deus;
é, ao mesmo
tempo e inseparavelmente,
- o assentimento
livre a toda a verdade que Deus revelou.
- É justo e bom entregar-se
totalmente a Deus e crer absolutamente no que ele diz. Seria vão e falso pôr
tal fé em uma criatura.
- Para o cristão, crer em Deus é,
inseparavelmente, crer naquele que Ele enviou, "seu Filho bem-amado",
no qual Ele pôs toda à sua complacência; Deus mandou que O escutássemos. O
próprio Senhor disse a seus discípulos: "Crede em Deus, crede também em
mim". Podemos crer em Jesus Cristo por que ele mesmo é Deus, o Verbo feito
carne: "Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito, que está voltado
para o seio do Pai; este o deu a conhecer".
Por ter ele "visto o Pai", ele é o único que o conhece e pode
revelá-lo.
- Não se pode crer em Jesus
Cristo sem participar de seu Espírito. É o Espírito Santo que revela aos homens
quem é Jesus. Pois "ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito
Santo". "O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades
de Deus... O que está em Deus, ninguém o conhece a não ser o Espírito de
Deus". Só Deus conhece a Deus por inteiro. Cremos no Espírito Santo porque
Ele é Deus.
A Igreja não cessa de confessar sua fé em um só Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo
As características da fé
A Fé é uma graça:
- Quando
São Pedro confessa que Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe declara
que esta revelação não lhe veio "da carne e do sangue, mas de meu Pai que
está nos céus". A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida
por Ele. "Para que se preste esta fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante
de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e o
converte a Deus, abre os olhos da mente e dá a todos suavidade no consentir e
crer na verdade."
A Fé é um ato humano:
- Crer
só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não
é menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não contraria nem a
liberdade nem a inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por
Ele reveladas.
- Já no campo das relações
humanas, não é contrário a nossa própria dignidade crer no que outras pessoas
nos dizem sobre si mesmas e sobre suas intenções e confiar nas promessas delas,
para entrar assim em comunhão recíproca. Por isso, é ainda menos contrário a
nossa dignidade prestar, pela fé, a revelação de Deus plena adesão do intelecto
e da vontade" e entrar, assim, em comunhão íntima com ele.
- Na fé, a inteligência e a
vontade humanas cooperam com a graça divina: Crer é um ato da inteligência que
assente à verdade divina a mando da vontade movida por Deus através da graça.
A Fé e a Inteligência:
- O motivo de crer não é o fato de as
verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis a luz de nossa
razão natural. Cremos "por causa da autoridade de Deus que revela e que
não pode nem enganar-se nem enganar-nos". "Todavia, para que o
obséquio de nossa fé fosse conforme a razão, Deus quis que os auxílios
interiores do Espírito Santo fossem acompanhados das provas exteriores de sua
Revelação. Por isso, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a
propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade
"constituem sinais certíssimos da Revelação, adaptados a inteligência de
todos", "motivos de credibilidade" que mostram que o
assentimento da fé não é "de modo algum um movimento cego do
espírito".
- A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque
se funda na própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as
verdades reveladas podem parecer obscuras a razão e a experiência humanas, mas
"a certeza dada pela luz divina é maior que a que é dada pela luz da razão
natural. "Dez mil dificuldades não fazem uma única dúvida.
- A fé procura compreender: e característico da fé o crente desejar
conhecer melhor Aquele em quem pôs sua fé e compreender melhor o que Ele
revelou; um conhecimento mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior,
cada vez mais ardente de amor. A graça da fé abre "os olhos do
coração" para uma compreensão viva dos conteúdos da Revelação, isto é, do
conjunto do projeto de Deus e dos mistérios da fé, do nexo deles entre si e com
Cristo, centro do Mistério revelado. Ora, para "tornar cada vez mais
profunda a compreensão da Revelação, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa
continuamente a fé por meio de seus dons.
"eu creio para
compreender, e compreendo para melhor crer".
- Fé e ciência. "Porém, ainda que a fé esteja acima da razão,
não poderá jamais haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o
mesmo Deus que revela os mistérios e infunde a fé dotou o espírito humano da
luz da razão; e Deus não poderia negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais
contradizer a verdade." "Portanto, se a pesquisa metódica, em todas as
ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis
morais, na realidade nunca será oposta a fé: tanto as realidades profanas
quanto as da fé originam-se do mesmo Deus. Mais ainda: quem tenta perscrutar
com humildade e Perseverança, os segredos das coisas, ainda que disso não tome
consciência, e como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as
coisas, fazendo com que elas sejam o que são."
A Liberdade da fé: Para que o ato de fé seja humano, "o homem
deve responder a Deus, crendo por livre vontade. Por conseguinte, ninguém deve
ser forçado contra sua vontade a abraçar a fé. Pois o ato de fé é por sua
natureza voluntário". "Deus de fato chama os homens para servi-lo em
espírito e verdade. Com isso os homens são obrigados em consciência, mas não
são forçados... Foi o que se patenteou em grau máximo em Jesus Cristo."
Com efeito, Cristo convidou a fé e a conversão, mas de modo algum coagiu.
"Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la pela força aos que a ela
resistiam. Seu reino... se estende graças ao amor com que Cristo, exaltado na
cruz, atrai a si os homens."
A necessidade da fé: É necessário, para obter esta salvação, crer
em Jesus Cristo e naquele que o enviou para nossa salvação.
- Como, porém,
"sem fé é impossível agradar a Deus' e chegar ao consórcio dos seus
filhos, ninguém jamais pode ser justificado sem ela, nem conseguir a vida
eterna, se nela não permanecer até o fim".
A perseverança na fé: A fé é um dom gratuito que Deus concede ao
homem. Podemos perder este dom inestimável; São Paulo alerta Timóteo sobre
isso: 'Combate... o bom combate, com fé e boa consciência; pois alguns,
rejeitando a boa consciência, vieram a naufragar na fé".
- Para viver, crescer e
perseverar até o fim na fé, devemos alimentá-la com a Palavra de Deus; devemos
implorar ao Senhor que a aumente; ela deve "agir pela caridade", ser
carregada pela esperança e estar enraizada na fé da Igreja.
A Fé, começo da Vida Eterna: A fé nos faz degustar como por
antecipação a alegria e a luz da visão beatífica, meta de nossa caminhada na
terra. Veremos então a Deus "face a face", "tal como Ele é".
- A fé já é, portanto, o começo
da vida eterna:
- Enquanto
desde já contemplamos as bênçãos da fé, como um reflexo no espelho, é como
se já possuíssemos as coisas maravilhosas que um dia desfrutaremos,
conforme nos garante nossa fé.
- Por ora, todavia,
"caminhamos pela fé, não pela visão", e conhecemos a Deus "como
que em um espelho, de uma forma confusa..., imperfeita".
- Luminosa em virtude daquele em
que ela crê, a fé é muitas vezes vivida na obscuridade.
- A fé pode ser posta a prova. O
mundo em que vivemos muitas vezes parece estar bem longe daquilo que a fé nos
assegura; as experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e da morte
parecem contradizer a Boa Nova; podem abalar a fé e tornar-se para ela uma
tentação.
- É então que devemos nos voltar
para as testemunhas da fé:
- Abraão,
que creu, "esperando contra toda esperança";
- Virgem
Maria, que na "peregrinação a fé" foi até a "noite da
fé", comungando com o sofrimento de seu Filho e com a noite de seu
túmulo e
- tantas
outras testemunhas da fé:
"Com tal
nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que nos
envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os
olhos fixos naquele que é autor e realizador da fé, Jesus".
CIC-Catecismo
da Igreja Católica 142-159
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