segunda-feira, 21 de abril de 2014

Encontro com Jesus nas devoções

A piedade popular como lugar de encontro com Jesus Cristo
§258. O Santo Padre destacou a “rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos”, e a apresentou como “o precioso tesouro da Igreja Católica na América Latina”. Convidou a promovê-la e a protegê-la.
- Essa maneira de expressar a fé está presente de diversas formas em todos os setores sociais, em uma multidão que merece nosso respeito e carinho, porque sua piedade “reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer”. A “religião do povo latino-americano é expressão da fé católica.
- É um catolicismo popular”, profundamente inculturado, que contém a dimensão mais valiosa da cultura latino-americana.

§259. Entre as expressões dessa espiritualidade contam-se:
* as festas patronais, as novenas, os rosários e via-sacras, as procissões,
* as danças e os cânticos do folclore religioso, o carinho aos santos e aos anjos, as promessas, as orações em família.
- Destacamos as peregrinações onde é possível reconhecer o Povo de Deus a caminho. Aí o cristão celebra a alegria de se sentir imerso em meio a tantos irmãos, caminhando juntos para Deus que os espera.
- O próprio Cristo se faz peregrino e caminha ressuscitado entre os pobres. - A decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé, o caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de amor.
- O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério, desfruta dele em silêncio.
- Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui confiante, é a melhor expressão de um coração que renunciou à auto-suficiência, reconhecendo que sozinho nada pode.
- Um breve instante condensa uma viva experiência espiritual.

§260. Aí, o peregrino vive a experiência de um mistério que o supera, não só da transcendência de Deus, mas também da Igreja, que transcende sua família e seu bairro. Nos santuários, muitos peregrinos tomam decisões que marcam suas vidas. As paredes dos santuários contêm muitas histórias de conversão, de perdão e de dons recebidos que milhões poderiam contar.
§261. A piedade popular penetra delicadamente a existência pessoal de cada fiel e, ainda que se viva em uma multidão, não é uma “espiritualidade de massas”. Nos diferentes momentos da luta cotidiana, muitos recorrem a algum pequeno sinal do amor de Deus: um crucifixo, um rosário, uma vela que se acende para acompanhar um filho em sua enfermidade, um Pai Nosso recitado entre lágrimas, um olhar entranhável a uma imagem querida de Maria, um sorriso dirigido ao Céu em meio a uma alegria singela.

§262. É verdade que a fé que se encarnou na cultura pode ser aprofundada e penetrar cada vez mais na forma de viver de nossos povos.
- Mas isso só pode acontecer se valorizarmos positivamente o que o Espírito Santo já semeou. A piedade popular é “imprescindível ponto de partida para conseguir que a fé do povo amadureça e se faça mais fecunda”.
- Por isso, o discípulo missionário precisa ser “sensível a ela, saber perceber suas dimensões interiores e seus valores inegáveis”. Quando afirmamos que é necessário evangelizá-la ou purificá-la, não queremos dizer que esteja privada de riqueza evangélica. Simplesmente desejamos que todos os membros do povo fiel, reconhecendo o testemunho de Maria e também dos santos, procurem imitá-los cada dia mais. Assim procurarão contato mais direto com a Bíblia e maior participação nos sacramentos, chegarão a desfrutar da celebração dominical da Eucaristia e viverão ainda melhor o serviço do amor solidário.
- Por esse caminho será possível aproveitar ainda mais o rico potencial de santidade e justiça social que a mística popular encerra.

§263. Não podemos desvalorizar a espiritualidade popular ou considerá-la como modo secundário da vida cristã, porque seria esquecer o primado da ação do Espírito e a iniciativa gratuita do amor de Deus. A piedade popular contém e expressa um intenso sentido da transcendência, uma capacidade espontânea de se apoiar em Deus e uma verdadeira experiência de amor teologal.
- É também uma expressão de sabedoria sobrenatural, porque a sabedoria do amor não depende diretamente da ilustração da mente, mas da ação interna da graça. Por isso, a chamamos de espiritualidade popular. Ou seja, uma espiritualidade cristã que, sendo um encontro pessoal com o Senhor, integra muito o corpóreo, o sensível, o simbólico e as necessidades mais concretas das pessoas. É uma espiritualidade encarnada na cultura dos simples, que nem por isso é menos espiritual, mas que o é de outra maneira.

§264. A piedade popular é uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários, onde se recolhem as mais profundas vibrações da América Latina. É parte de uma “originalidade histórica cultural” dos pobres deste Continente, e fruto de “uma síntese entre as culturas e a fé cristã”.
- No ambiente de secularização que vivem nossos povos, continua sendo uma poderosa confissão do Deus vivo que atua na história e um canal de transmissão da fé.
- O caminhar juntos para os santuários e o participar em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador pelo qual o povo cristão evangeliza a si mesmo e cumpre a vocação missionária da Igreja.

§265. Nossos povos se identificam particularmente com o Cristo sofredor, olham-no, beijam-no ou tocam seus pés machucados, como se dissessem: Este é “o que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).
- Muitos deles golpeados, ignorados, despojados, não abaixam os braços.
- Com sua religiosidade característica se agarram no imenso amor que Deus tem por eles e que lhes recorda permanentemente sua própria dignidade.
- Também encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela vêem refletida a mensagem essencial do Evangelho. Nossa Mãe querida, desde o santuário de Guadalupe, faz sentir a seus filhos menores que eles estão na dobra de seu manto. Agora, desde Aparecida, convida-os a lançar as redes ao mundo, para tirar do anonimato aqueles que estão submersos no esquecimento e aproximá-los da luz da fé. Ela, reunindo os filhos, integra nossos povos ao redor de Jesus Cristo.


Documento de Aparecida 2007

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