Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos
pecados
Toda a vida de Cristo é oferenda ao Pai
§606. O Filho de Deus, que "desceu
do Céu não para fazer sua vontade, mas a do Pai que o enviou", "diz
ao entrar no mundo:.. Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua
vontade... Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do
corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas" (Hb 10,5-10). Desde o
primeiro instante de sua Encarnação, o Filho desposa o desígnio de salvação
divino em sua missão redentora: "Meu alimento é fazer a vontade daquele
que me enviou e consumar sua obra" (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus
"pelos pecados do mundo inteiro" (1Jo 2,2) é a expressão de sua
comunhão de amor ao Pai: "O Pai me ama porque dou a minha vida" (Jo
10,17). "O mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai me
ordenou" (Jo 14,31).
§607. Este desejo de desposar o
desígnio de amor redentor de seu Pai anima toda a vida de Jesus pois sua Paixão
redentora é a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta hora.
Mas foi precisamente para esta hora que eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei
eu de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18,11). E ainda na cruz, antes
que tudo fosse "consumado" (Jo 19,30), ele disse: "Tenho
sede" (Jo 19,28).
“O cordeiro que tira o pecado do
mundo”
§608. Depois de ter aceitado dar-lhe o
Batismo junto com os pecadores, João Batista viu e mostrou em Jesus o
"Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". Manifesta, assim que
Jesus é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao
matadouro e carrega o pecado das multidões e o cordeiro pascal, símbolo da
redenção de Israel por ocasião da primeira Páscoa Toda a vida de Cristo exprime
sua missão: "Servir e dar sua vida em resgate por muitos".
Jesus abraça livremente o amor redentor do Pai
§609. Ao abraçar em seu coração humano
o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os até o fim" (Jo 13,11),
"pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos"
(Jo 15,13). Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o
instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos
homens. Com efeito, aceitou livremente sua Paixão e sua Morte por amor de seu
Pai e dos homens, que o Pai quer salvar: "Ninguém me tira a vida, mas eu a
dou livremente" (Jo 10,18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus
quando Ele mesmo vai ao encontro da morte.
Na ceia, Jesus, antecipou a oferta livre de sua vida
§610. Jesus expressou de modo supremo a
oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na
"noite em que foi entregue" (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão,
quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus
apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens:
"Isto é o meu corpo que é dado por vós" (Lc 22,19). "Isto é o
meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos
pecados" (Mt 26,28).
§611. A Eucaristia que instituiu
naquele momento será o "memorial" de seu sacrifício. Jesus inclui os
apóstolos em sua própria oferta e lhes pede que a perpetuem. Com isso, institui
seus apóstolos sacerdotes da Nova Aliança: "Por eles, a mim mesmo me
santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19).
A agonia no Getsêmani
§612. O cálice da Nova Aliança, que
Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-se a si mesmo, aceita-o em seguida das mãos
do Pai em sua agonia no Getsêmani, tornando-se "obediente até a
morte" (Fl 2,8). Jesus ora: "Meu Pai, se for possível, que passe de
mim este cálice..." (Mt 26,39). Exprime assim o horror que a morte
representa para sua natureza humana. Com efeito, a natureza humana de Jesus,
como a nossa, está destinada à Vida Eterna; além disso, diversamente da nossa,
ela é totalmente isenta de pecado, que causa a morte"; mas ela é sobretudo
assumida pela pessoa divina do "Príncipe da Vida", do
"vivente". Ao aceitar em sua vontade humana que a vontade do Pai seja
feita, aceita sua morte como redentora para "carregar em seu próprio corpo
os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2,24).
A morte de Cristo é o sacrifício único e definitivo
§613. A morte de Cristo é ao mesmo
tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens pelo
"cordeiro que tira o pecado do mundo", e o sacrifício da Nova
Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo
"sangue derramado por muitos para remissão dos pecados".
§614. Este sacrifício de Cristo é
único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios. Ele é primeiro um dom do
próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos consigo. É
ao mesmo tempo oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por
amor, oferece sua vida a seu Pai pelo Espírito Santo, para reparar nossa
desobediência.
Jesus substitui nossa desobediência por sua obediência
§615. Como pela desobediência de um só
homem todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se
tornarão justos" (Rm 5,19). Por sua obediência até a morte, Jesus realizou
a substituição do Servo Sofredor que "oferece sua vida em sacrifício
expiatório", "quando carregava o pecado das multidões",
"que ele justifica levando sobre si o pecado de muitos". Jesus
prestou reparação por nossas faltas e satisfez o Pai por nossos pecados.
Na cruz, Jesus consuma seu sacrifício
§616. É "o amor até o fim"
que confere o Valor de redenção de reparação, de expiação e de satisfação ao
sacrifício de Cristo. Ele nos conheceu a todos e amou na oferenda de sua vida.
"A caridade de Cristo nos compele quando consideramos que um só morreu por
todos e que, por conseguinte, todos morreram" (2 Cor 5,14). Nenhum homem,
ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos
os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da
Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas
humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna possível seu
sacrifício redentor por todos.
§617. “Por sua santíssima Paixão no
madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento,
sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de
salvação eterna". E a Igreja venera a Cruz, cantando: Salve, ó Cruz, única
esperança".
Nossa participação no sacrifício de Cristo
§618. A Cruz é o único sacrifício de
Cristo, "único mediador entre Deus e os homens". Mas pelo fato de
que, em sua Pessoa
Divina encarnada, "de certo modo uniu a si mesmo todos
os homens", "oferece a todos os homens, de uma forma que Deus
conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal". Chama
seus discípulos a "tomar sua cruz e a segui-lo", pois "sofreu
por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que sigamos seus passos". Quer
associar a seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros
beneficiários dele. Isto realiza-se de maneira suprema em sua Mãe , associada mais
intimamente do que qualquer outro ao mistério de seu sofrimento redentor:
Fora da
cruz não existe outra escada por onde subir ao céu.
CIC-Catecismo da Igreja Católica
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