Iniciação
à vida cristã
§286. São
muitos os cristãos que não participam na Eucaristia dominical nem recebem com
regularidade os sacramentos, nem se inserem ativamente na comunidade eclesial.
Sem esquecer a importância da família na iniciação cristã, esse fenômeno nos
desafia profundamente a imaginar e organizar novas formas de nos aproximar
deles para ajudá-los a valorizar o sentido da vida sacramental, da participação
comunitária e do compromisso cidadão. Temos alta porcentagem de católicos sem a
consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã
fraca e vulnerável.
§287. Isso
constitui grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando
na fé e como estamos alimentando a experiência cristã; desafio que devemos
encarar com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas partes a
iniciação cristã tem sido pobre ou fragmentada. Ou educamos na fé, colocando as
pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou
não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a tarefa irrenunciável de
oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o quê, também dê
elementos para o quem, o como e o onde se realiza. Dessa forma, assumiremos o
desafio de uma nova evangelização, à qual temos sido reiteradamente convocados.
§288. A
iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar
alguém em contato com Jesus Cristo e inicia-lo no discipulado. Dá-nos, também,
a oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos da iniciação, e
aprofundar o rico sentido deles. A iniciação cristã, propriamente falando,
refere-se à primeira iniciação nos mistérios da fé, seja na forma do
catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma do catecumenato pós-batismal
para os batizados não suficientemente catequisados. Esse catecumenato está intimamente unido aos
sacramentos da iniciação: batismo, confirmação e eucaristia, celebrados solenemente
na Vigília Pascal. Teríamos que distingui-la, portanto, de outros processos
catequéticos e formativos que podem ter a iniciação cristã como base.
Propostas para a iniciação
cristã
§289. Sentimos
a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na
vida cristã que comece pelo querigma e que, guiado pela Palavra de Deus,
conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e
perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à
conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé
na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.
§290.
Recordamos que o caminho de formação do cristão, na tradição mais antiga da
Igreja, “teve sempre caráter de experiência, na qual era determinante o
encontro vivo e persuasivo com Cristo, anunciado por autênticas testemunhas”. Trata-se
de uma experiência que introduz o cristão numa profunda e feliz celebração dos
sacramentos, com toda a riqueza de seus sinais. Desse modo, a vida vem se
transformando progressivamente pelos santos mistérios que se celebram,
capacitando o cristão a transformar o mundo. Isso é o que se chama “catequese
mistagógica”.
§291. Ser
discípulo é dom destinado a crescer. A iniciação cristã dá a possibilidade de
uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no seguimento de Cristo.
Dessa forma, ela forja a identidade cristã com as convicções fundamentais e acompanha
a busca do sentido da vida. É necessário assumir a dinâmica catequética da
iniciação cristã. Uma comunidade que assume a iniciação cristã renova sua vida
comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer novas atitudes
pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e agentes
de pastoral.
§292. Como características
do discípulo, indicadas pela iniciação cristã, destacamos: que ele tenha como
centro a pessoa de Jesus Cristo, nosso Salvador e plenitude de nossa
humanidade, fonte de toda maturidade humana e cristã; que tenha espírito de
oração, seja amante da Palavra, pratique a confissão frequente e participe da
Eucaristia; que se insira cordialmente na comunidade eclesial e social, seja
solidário no amor e fervoroso missionário.
§293. A
paróquia precisa ser o lugar onde se assegure a iniciação cristã e terá como
tarefas irrenunciáveis:
- iniciar na vida cristã os
adultos batizados e não suficientemente evangelizados;
- educar na fé as crianças
batizadas em um processo que as leve a completar sua iniciação cristã;
- iniciar os não batizados
que, havendo escutado o querigma, querem abraçar a fé.
- Nessa tarefa, o estudo e a assimilação do Ritual de
Iniciação Cristã de Adultos é referência necessária e apoio seguro.
§294. Assumir
essa iniciação cristã exige não só uma renovação de modalidade catequética da
paróquia. Propomos que o processo catequético de formação adotado pela Igreja
para a iniciação cristã seja assumido em todo o Continente como a maneira ordinária
e indispensável de introdução na vida cristã e como a catequese básica e
fundamental. Depois, virá a catequese permanente que continua o processo de
amadurecimento da fé; nela se deve incorporar o discernimento vocacional e a
iluminação para projetos pessoais de vida.
Catequese permanente
§295. Quanto à
situação atual da catequese, é evidente que tem havido grande progresso. Tem
crescido o tempo que se dedica à preparação para os sacramentos. Tem-se tomado
maior consciência de sua necessidade, tanto nas famílias como entre os
pastores. Compreende-se que ela é imprescindível em toda formação cristã.
Têm-se constituído ordinariamente comissões diocesanas e paroquiais de
catequese. É admirável o grande número de pessoas que se sentem chamadas a se
fazer catequistas, com grande entrega. A elas, esta Assembleia manifesta
sincero reconhecimento.
§296. No
entanto, apesar da boa vontade, a formação teológica e pedagógica dos
catequistas não costuma ser a desejável.
- Os materiais e subsídios são com frequência muito
variados e não se integram em uma pastoral de conjunto; e nem sempre são portadores
de métodos pedagógicos atualizados. Os serviços catequéticos das paróquias frequentemente
carecem de colaboração próxima das famílias. Os párocos e demais responsáveis
não assumem com maior empenho a função que lhes corresponde como primeiros
catequistas.
§297. Os
desafios que apresenta a situação da sociedade na América latina e no Caribe
requerem identidade católica mais pessoal e fundamentada. O fortalecimento
dessa identidade passa por uma catequese adequada que promova adesão pessoal e
comunitária a Cristo, sobretudo nos mais fracos na fé. É tarefa que cabe a toda
a comunidade de discípulos, mas de maneira
especial a nós que, como bispos, fomos chamados a servir à
Igreja, pastoreando-a, conduzindo-a ao encontro com Jesus e ensinando-lhe a
viver tudo o que Ele nos tem mandado (cf. Mt 28,19-20).
§298. A
catequese não deve ser só ocasional, reduzida a momentos prévios aos
sacramentos ou à iniciação cristã, mas sim “itinerário catequético permanente”.
Por isso, compete a cada Igreja particular, com a ajuda das Conferências
Episcopais, estabelecer um processo catequético orgânico e progressivo que se estenda
por toda a vida, desde a infância até à terceira idade, levando em consideração
que o Diretório Geral de Catequese considera a catequese com adultos como a
forma fundamental da educação na fé. Para que em verdade o povo conheça Cristo
a fundo e o siga fielmente, deve ser conduzido especialmente na leitura e
meditação da Palavra de Deus, que é o primeiro fundamento de uma catequese
permanente.
§299. A
catequese não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas precisa
ser uma verdadeira escola de formação integral.
- Portanto, é necessário cultivar a amizade com Cristo na
oração, o apreço pela celebração litúrgica, a experiência comunitária, o
compromisso apostólico mediante um permanente serviço aos demais. Para isso,
seriam úteis alguns subsídios catequéticos elaborados a partir do Catecismo
da Igreja Católica e do Compêndio da Doutrina Social da Igreja,
estabelecendo cursos e escolas de formação permanente aos catequistas.
§300. Deve-se
dar catequese apropriada que acompanhe a fé já presente na religiosidade
popular. Maneira concreta pode ser a oferta de um processo de iniciação cristã
com visitas às famílias, onde não só se comuniquem a elas os conteúdos da fé,
mas que também as conduza à prática da oração familiar, à leitura orante da
Palavra de Deus e ao desenvolvimento das virtudes evangélicas, que as
consolidem cada vez mais como Igrejas domésticas. Para esse crescimento na fé,
também é conveniente aproveitar pedagogicamente o potencial educativo presente
na piedade popular mariana. Trata-se de um caminho educativo que, cultivando o
amor pessoal à Virgem, verdadeira “educadora na fé” que nos leva a nos
assemelhar cada vez mais a Jesus Cristo, provoque a apropriação progressiva de
suas atitudes.
Documento de Aparecida 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário