O desejo de Deus
- O desejo de Deus está inscrito
no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não
cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a
verdade e a felicidade que não cessa de procurar:
- O
aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à
comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com
ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus
o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só
vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e
se entregar ao seu Criador.
- Em sua história, e até os dias
de hoje, os homens têm expressado de múltiplas maneiras sua busca de Deus por
meio de suas crenças e de seus comportamentos religiosos (orações, sacrifícios,
cultos, meditações etc.).
- Apesar das ambigüidades que
podem comportar, estas formas de expressão são tão universais que o homem pode
ser chamado de um ser religioso:
- De um
só (homem), Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da
terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites de seu
hábitat. Tudo isto para que procurassem a divindade e, mesmo se às
apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora Ele não esteja longe
de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos (At
17,23-28).
- Mas esta "união íntima e
vital com Deus" pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente
pelo homem.
Tais atitudes podem ter origens
muito diversas:
- a
revolta contra o mal no mundo,
- a
ignorância ou a indiferença religiosas,
- as
preocupações com as coisas do mundo e com as riquezas,
- o mau
exemplo dos crentes,
- as
correntes de pensamento hostis à religião, e finalmente
- a
atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge
diante de seu chamado.
- "Alegre-se o coração dos
que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar a
Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que
viva e encontre a felicidade.
- Mas esta busca exige do homem
todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, "um coração
reto", e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus.
- Vós
sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor:
grande é o
vosso poder, e a vossa sabedoria não tem medida.
E o homem,
pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem
que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e
de que resistis aos soberbos.
A despeito de
tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos.
Vós mesmo o
incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor,
porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não
repousar em vós. (Santo Agostinho)
As vias de acesso ao conhecimento de Deus
- Criado à imagem de Deus,
chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre certas
"vias" para aceder ao conhecimento de Deus.
- Chamamo-las também de
"provas da existência de Deus", não no sentido das provas que as
ciências naturais buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e
convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas.
- Estas "vias" para
chegar a Deus tem como ponto de partida a criação:
- o mundo
material e
- a
pessoa humana.
- O mundo: a partir do movimento e do devir, da
contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como
origem e fim do universo.
- São Paulo afirma a respeito dos
pagãos:
"O que se pode
conhecer de Deus é manifesto entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade
invisível - seu eterno poder e sua divindade - tornou-se inteligível desde a
criação do mundo através das criaturas" (Rm
1,19-20).
- E Santo Agostinho:
- "Interroga
a beleza da terra,
interroga a
beleza do mar,
interroga a
beleza do ar que se dilata e se difunde,
interroga a
beleza do céu...
interroga todas estas realidades.
Todas elas te respondem:
- olha-nos,
somos belas.
Sua beleza é
um hino de louvor.
- Essas belezas sujeitas à mudança,
quem as fez senão o Belo, não sujeito a mudança?"
- O homem: Com sua abertura à verdade e a beleza, com seu
senso do bem moral, com sua liberdade e a voz de sua consciência, com sua aspiração
ao infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus.
- Mediante tudo isso percebe
sinais de sua alma espiritual. Como "semente de eternidade que leva dentro
de si, irredutível a só matéria" sua alma não pode ter origem senão em
Deus.
- O mundo e o homem atestam que
não têm em si mesmo nem seu princípio primeiro nem seu fim último, mas que
participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim por estas diversas
"vias", o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma
realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, "e que todos
chamam Deus"
- As faculdades do homem o tornam
capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal.
- Mas, para que o homem possa
entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a graça de
poder acolher esta revelação na fé.
- Contudo, as provas da
existência de Deus podem dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à
razão humana.
CIC-Catecismo da Igreja Católica
§27-35
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