Deus revela seu projeto benevolente
- "Aprouve a Deus, em sua
bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua
vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, no
Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tomam participantes da natureza
divina".
- Deus, que "habita uma luz
inacessível" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua própria vida divina aos
homens, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho único,
filhos adotivos.
- Ao revelar-se, Deus quer tornar
os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo bem além do que
seriam capazes por si mesmos.
- O projeto divino da Revelação
realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente ligadas
entre si e que se iluminam mutuamente". - Este projeto comporta uma
"pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o
homem, prepara-o por etapas a acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo
e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Desde a origem, Deus se dá a conhecer
- "Criando pelo Verbo o
universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas coisas criadas, um
permanente testemunho de si e, além disso, no intuito de abrir o caminho de uma
salvação superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos
primeiros pais." Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo,
revestindo-os de uma graça e de uma justiça resplandecentes.
- Esta Revelação não foi interrompida
pelo pecado de nossos primeiros pais. Deus, com efeito, "após a queda
destes, com a prometida redenção, alentou-os a esperar uma salvação e velou
permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles
que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação"
A Aliança com Noé
- Desfeita a unidade do gênero
humano pelo pecado, Deus procura antes de tudo salvar a humanidade passando por
cada uma de suas partes.
- A Aliança com Noé depois do
dilúvio exprime o princípio da Economia divina para com as "nações",
isto é, para com os homens agrupados "segundo seus países, cada um segundo
sua língua, e segundo seus clãs"
- Esta ordem ao mesmo tempo
cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações destina-se a limitar o
orgulho de uma humanidade decaída que unânime em sua perversidade, gostaria de
construir por si mesma sua unidade à maneira de Babel. Contudo, devido ao
pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui
uma contínua ameaça de perversão pagã para essa Economia provisória.
- A Aliança com Noé permanece em
vigor durante todo o tempo das nações, até a proclamação universal do
Evangelho.
- A Bíblia venera algumas grandes
figuras das "nações", tais como "Abel, o justo", o rei-sacerdote
Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos "Noé, Daniel e Jó".
Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade podem atingir os que
vivem segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo "congregue na
unidade todos os filhos de Deus dispersos".
Deus elege Abraão
- Para congregar a humanidade
dispersa, Deus elegeu Abrão, chamando-o "para fora de seu país, de sua
parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abraão",
isto é, "o pai de uma multidão de nações" (Gn 17,5):
"Em ti serão
abençoadas todas as nações da terra" (Gn 12,3).
- O povo originado de Abraão será
o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo da eleição, chamado a
preparar o congraçamento, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da
Igreja; será a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.
- Os patriarcas e os profetas,
bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão sempre
venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.
Deus forma seu povo Israel
- Depois dos patriarcas, Deus
formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão do Egito. Fez com ele a
Aliança do Sinai e deu-lhe, por intermédio de Moisés, a sua Lei, para que o
reconhecesse e o servisse como o único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e
juiz justo, e para que esperasse o Salvador prometido.
- Israel é o Povo sacerdotal de
Deus, aquele que "traz o Nome do Senhor" (Dt 28,10). É o povo
daqueles "aos quais Deus falou em primeiro lugar", o povo dos
"irmãos mais velhos" da fé de Abraão.
- Por meio dos profetas, Deus
forma seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma Aliança nova e
eterna destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações.
- Os profetas anunciam uma
redenção radical do Povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades,
uma salvação que incluirá todas as nações.
- Serão sobretudo os pobres e os
humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara,
Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança
da salvação de Israel. Delas todas, a figura mais pura é a de Maria.
Deus disse tudo no seu Verbo
- "Muitas vezes e de modos
diversos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que
são os últimos, falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1-2). Cristo, o Filho
de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o
Pai disse tudo, e não há outra palavra senão esta. São João da Cruz, depois de
tantos outros, exprime isto de maneira luminosa, comentando Hb 1,1-2:
- Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única (e outra não há), tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho. Se atualmente, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou revelação, não só cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus por não dirigir os olhares unicamente para Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma.
Não haverá outra revelação
- "A Economia cristã,
portanto, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que
esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso
Senhor Jesus Cristo". Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não
está explicitada por completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o
seu alcance ao longo dos séculos.
- A fé cristã não pode aceitar
"revelações" que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da
qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e
também de certas seitas recentes que se fundamentam em tais
"revelações".
CIC-Catecismo da Igreja Católica
51-67
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